Dentro do vazio do teu olhar, agora envolto no breu da noite.
Olhos fixos no nada, olhos que já abrangeram horizontes inacessíveis.
Mãos rijas, salgadas ainda.
Mãos sem tremores que calcam o tabaco no velho cachimbo, com a mesma determinação com que sujeitam as minhas, quando te guiam.
A chama amarela do fósforo que parece ensinada, no seu destino de atear o tabaco.
E o fumo que se eleva, soprado pela tua boca já sem dentes.
Á tardinha, gostavas que te leva-se à praia antes do sol se pôr e ali sentado olhavas o teu vazio.
O mar sussurrava umas vezes, berrava outras, mas ficavas quase indiferente, não fosse uma gota de água mais libertina que vi assomar nos teus olhos sem vida.
A contra gosto um dia, levei-te pela mão como a um menino e junto dele deixei que te envolvesse os pés.
Pareceste assustado.
Parvoíce a minha, a firmeza com que apertaste a minha mão não revelava temor, sinto-o hoje, era apenas respeito e uma imensa saudade.
Hoje sozinho, quando à tardinha descalço chuto as pequenas ondas na praia, vejo o teu cabelo branco sobre elas e o fumo do teu cachimbo no horizonte.