Saudade, mais do que nostalgia…
Olhavas sereno, na tua escuridão do fim de tarde.
Dizias-me indeciso, mais numa afirmação que interrogação.
São quê?
4 Horas?
Eu, criança, confirmava. São quatro e tal…
E olhando-te nos olhos mortos, interrogava-me como é que ele sabe?
Depois voltavas à tua observação enublada, nas mãos trémulas tentavas enrolar um cigarro, feito de mortalhas Conquistador e tabaco Duque que conseguias sem ver retirar da onça.
Eu olhava para ti, triste, porque nunca mais te vi sorrir…
Embevecido, escutava-te contando histórias das fainas que nunca mais haverias de partilhar, enquanto te aconchegavas mais há "ravessa" da duna, aqui e ali levemente açoitada pela brisa de Novembro.
O mar está calmo, dizias. Não o oiço ralhar…
Num gesto quase mecanizado aconchegavas o teu “barrete” negro tentando proteger-te do frio, que eu não sentia.
E eu, criança, sem perceber a razão da tua cegueira, da tua pobreza, olhando-te lá no alto da tua estatura agora ligeiramente curvada, revoltava-me.
Com a tristeza de alguns dos teus filhos, que achavam que devias ir pedir esmola.
E eu, criança revoltada, nunca deixei, nunca perdoei…
Nem hoje Avô!
Não perdoei ainda…
6 opinou:
Este episódio de vida magoa... e mostra bem a sensibilidade dos que sentem e se importam... no fundo é mais fácil ser bom do que mau.
gostei.
Episódio de velho marinheiro:
Quantos nazarenos ou de outras fainas sentiram esta mágoa.
João Norte
Sentida homenagem a quem a mereceu.
ssnsível e terna homenagem! abraços
sensibilidade, realismo, ternura, e raiva...gostei!
Olá Tio, de vez em quando dou uma volta pelo teu blog, e encontrei este pedaço da história que é nossa, de alguém que só conheço de fotografias guardadas em albuns. Fica mais este relato para enriquecer as minhas memórias, adorei! Beijinhos, Sandra
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